
No coração do estado de Mato Grosso, cercado por rios caudalosos, florestas densas e terras férteis, ergue-se Tabaporã — um município jovem, porém repleto de história e identidade. Conhecida como a “Aldeia Bonita”, tradução do seu nome de origem tupi, Tabaporã nasceu do sonho de progresso de migrantes do sul do país, mas sua trajetória começa muito antes disso, com os povos originários que habitaram e protegeram essas terras por séculos.
As raízes indígenas: os primeiros habitantes de Tabaporã
Muito antes da chegada dos colonizadores e da criação das primeiras estradas, a região de Tabaporã era território tradicional de povos indígenas. De acordo com registros históricos e estudos antropológicos, a área era habitada por grupos indígenas como os Apiaká, Kayabi (ou Kaiabi) e os Munduruku, que circulavam entre os rios Arinos, Teles Pires e Juruena.
Esses povos viviam da pesca, caça, agricultura e coleta, com profundo conhecimento da floresta e dos rios. A relação desses grupos com a natureza era de harmonia e respeito — os rios não eram apenas fontes de alimento, mas também locais sagrados de conexão espiritual e cultural.
Com o avanço da ocupação e dos projetos de colonização, muitos desses povos foram deslocados de seus territórios tradicionais, sofrendo impactos ambientais, sociais e culturais. Hoje, parte desses grupos vive em terras indígenas demarcadas, enquanto outros seguem lutando pelo reconhecimento de seus direitos.
O nome “Tabaporã”, derivado do tupi (“taba” = aldeia; “porã” = bonita), é uma homenagem simbólica a esses primeiros habitantes. Segundo a tradição local, o nome teria sido sugerido pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, impressionado com a beleza da região.
A colonização moderna: o nascimento de uma cidade (1984–1986)
A ocupação moderna da região de Tabaporã teve início em 1984, com a chegada da empresa Zé Paraná Empreendimentos Imobiliários Ltda., responsável por um grande projeto de colonização rural na Gleba Tabaporã. Com cerca de 400 mil hectares, a gleba foi organizada para atrair agricultores e investidores, especialmente do sul e sudeste do país.
A empresa abriu estradas, construiu pontes e disponibilizou lotes rurais e urbanos. As famílias pioneiras, vindas principalmente do Paraná e São Paulo, enfrentaram dificuldades como o isolamento, falta de energia, infraestrutura e saúde pública, mas com esforço coletivo e espírito de comunidade, começaram a construir a cidade.
Em 1986, a região foi elevada à categoria de distrito, pertencente ao município de Porto dos Gaúchos.
A emancipação: o nascimento oficial de Tabaporã
O esforço dos moradores pela autonomia culminou em 20 de dezembro de 1991, quando Tabaporã foi oficialmente elevada à categoria de município, por meio da Lei Estadual n.º 5.903. A instalação da prefeitura ocorreu em 1º de janeiro de 1993, com a posse do primeiro prefeito eleito pelo voto popular.
A partir daí, Tabaporã passou a trilhar seu próprio caminho, com autonomia administrativa, política e orçamentária, tornando-se responsável por definir suas prioridades e investir no desenvolvimento local.
Economia: a força do campo e da floresta
Desde os primeiros anos, a economia de Tabaporã tem como pilar o agronegócio. A fertilidade do solo, aliada ao clima propício, favoreceu a produção de soja, milho, arroz, algodão e pecuária de corte. Grandes propriedades rurais se instalaram no município, impulsionando a economia e atraindo investimentos.
Outro setor relevante foi a indústria madeireira, que teve papel importante no início da economia local. A extração e beneficiamento de madeira ajudaram a impulsionar o comércio e gerar empregos, embora também tenham trazido desafios ambientais e sociais.
Hoje, Tabaporã busca equilibrar produção e sustentabilidade, com incentivos à agricultura familiar, ao turismo ecológico e à diversificação econômica.
Cultura, identidade e tradições
Tabaporã, mesmo com poucos anos de emancipação, desenvolveu uma rica identidade cultural formada pela diversidade de seus moradores — migrantes do sul, sudeste e centro-oeste, além da influência indígena presente em nomes, costumes e na própria paisagem local.
Eventos como o Festival de Pesca, o Festival de Canoagem, a Exporã, as festas juninas e a Semana Cultural movimentam o calendário local, promovendo lazer, turismo e integração entre os moradores.
A cidade também investe na educação histórica, promovendo atividades escolares que valorizam a memória dos pioneiros e dos povos indígenas, estimulando o respeito à diversidade e ao meio ambiente.
Desafios e futuro promissor
Atualmente, Tabaporã enfrenta o desafio de manter o crescimento com qualidade de vida. A melhoria das estradas vicinais, o acesso à saúde pública, a preservação do meio ambiente e a geração de empregos sustentáveis estão entre as principais demandas.
O município tem investido em obras de infraestrutura, programas sociais, incentivo à educação e ao empreendedorismo local. Projetos voltados ao ecoturismo e ao turismo de pesca também estão sendo estruturados, aproveitando os rios da região como atrativos econômicos e culturais.
Conclusão: Tabaporã, um símbolo de resistência e esperança
Tabaporã é uma cidade que carrega em seu solo o suor dos migrantes e a memória dos povos indígenas. Sua história é marcada por resistência, fé, coragem e união — elementos que explicam como, em apenas poucas décadas, a “aldeia bonita” se transformou em um importante centro agrícola do norte de Mato Grosso.
Mais do que uma cidade jovem, Tabaporã é um lugar com alma, onde a história continua sendo escrita todos os dias pelas mãos do seu povo. Um povo que não esquece suas origens, valoriza sua cultura e trabalha pelo amanhã.